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Pesquisa

Como escultora têxtil, Maria Pratas, descobriu uma nova dimensão no seu ofício, impulsionada pela sua licenciatura em educação visual e a sua ênfase na bidimensionalidade. Com uma dedicação à elaboração de esculturas têxteis, as suas odisseias criativas levam-na a diversos destinos, colecionando objetos e memórias como fontes de inspiração.

Do Sul evoca um universo de significados que vão além de coordenadas geográficas. É um convite para explorar o encontro entre o olhar sobre experiências pessoais e a representação do natural.

Estivemos à conversa com Maria Pratas cuja arte habita as nossas casas assim como os nossos corações.

Esta mostra tem como título “Do Sul”. Como é que ele está presente e em que é que te inspira?

Do Sul evoca um universo de significados que vão além de coordenadas geográficas. É um convite para explorar o encontro entre o olhar, sobre experiências pessoais e a representação do natural. As pedras, os lugares, as raízes representam-se não apenas na sua forma e estética, mas também com metáforas e simbolismos. As pedras como símbolos de permanência e estabilidade, são guardiãs silenciosas da costa, os lugares como ícones da transitoriedade e da adaptação, são a mutação e a efemeridade do tempo. Juntos, contam a história dinâmica e contínua dos dias que moldam não apenas a paisagem, mas também uma trajetória pessoal através do tempo.

Vivo e trabalho no algarve, território mais a sul de Portugal e a ligação geográfica é estreita desde há 20 anos.

 

A ideia de memória é um conceito que nos diz muito, e que também está presente nas tuas peças. Memórias pessoais, coletivas ou culturais?

A memória é o registo mais interessante para criar uma identidade. Numa prática artística interessam-me não apenas as próprias memórias pessoais, mas também memórias coletivas e culturais. O meu trabalho é o prolongamento de todas as experiências individuais, dos registos visuais, é a representação de sensações, do que vivo de uma forma tangível, muitas vezes aplicando materiais, matérias-primas e objetos que têm uma história própria. 

 

A contemporaneidade das formas, surge nas tuas peças, quase como em oposição às técnicas artesanais utilizadas. Queres falar um pouco sobre isso?

Sim, a contemporaneidade das formas é algo que me interessa explorar dentro do contexto das técnicas tradicionais que utilizo. Vejo isso não como uma oposição, mas como um diálogo entre passado e presente. Vou buscar técnicas ancestrais de cestaria e tecelagem e trago-as para o atelier onde a criação de esculturas liga a forma-função e a estética se estreita harmoniosamente para que a peça resulte plenamente num determinado ambiente e com uma vida longa.

 

Nesta mostra é bastante visível que, se por um lado há uma continuidade técnica nas tuas peças. Existe, por outro, uma pesquisa e vontade de criar formas e peças, muito diferentes entre si. Como é esse processo criativo?

Claramente! O meu processo criativo envolve a procura por novas formas de expressão dentro das técnicas que domino. Embora haja uma continuidade técnica, tenho a curiosidade e o impulso por conhecer novos materiais têxteis, novas abordagens estéticas e outras soluções para estruturar as minhas peças. Não havendo uma fórmula, há um detalhe que dispara em direção a um desafio... por fim o resultado é único e as esculturas aparecem com a impressão digital da minha identidade através da minha estética pessoal e das técnicas que escolho naquele lugar e momento.

 

A tua obra reúne maioritariamente 2 técnicas que embora tenham um princípio comum, são bastantes diferentes, a cestaria e o têxtil. Como surgiu essa união?

A fusão entre a cestaria e os têxteis surgiu da minha vontade de explorar diferentes meios de expressão dentro de um universo das manualidades. Ambas as técnicas têm raízes profundas nas culturas locais e oferecem possibilidades únicas de criação. A cestaria permite trabalhar a estrutura tridimensional com materiais naturais, enquanto que as fibras têxteis são exploradas para criar por exemplo texturas e cores.

 

De que formas vês o crescente reavivar dos materiais, das técnicas e do saber fazer ancestrais?  

Vejo como um movimento muito positivo e inspirador. À medida que as pessoas procuram uma conexão mais profunda com o passado e com práticas sustentáveis, há um interesse renovado por materiais naturais e técnicas mais tradicionais. Isso não só preserva um patrimônio cultural valioso, mas também abre novas possibilidades criativas e promove um consumo mais consciente e sustentável.

 

Como tem sido este percurso artístico? E quais consideras ser os momentos chave, até aqui?

Este percurso artístico tem sido uma viagem com muitos momentos de descoberta e aprendizagem contínuos. 

A par das propostas para criar trabalhos específicos e únicos para um determinado espaço, destaco o reconhecimento pelos meus pares, ser reconhecida pela Homo Faber (Michelangelo Foundation For Creativity & Craftsmanship) como master artisan e ter participado na Révélations International Biennial, Paris, 2023, são momentos altos e constantes no meu percurso que me deixam surpreendida e bastante feliz.

 

Consulte aqui todas as peças disponíveis de Maria Pratas!