Ana Cruz e Maria de Betânia formam a dupla ana+betânia, criada em 2015 e sediada nas Caldas da Rainha, cidade conhecida pela sua forte ligação à cerâmica, sendo Raphael Bordallo Pinheiro uma das suas grandes referências.

A exposição “FLORA”, patente no nosso espaço até o dia 12 de Novembro, transporta-nos para o universo das artistas através de uma magnífica homenagem ao amor, que reflete o enorme talento desta dupla, com a qual estivemos à conversa para conhecer um pouco mais do seu trabalho e do seu percurso.

Qual foi o ponto de partida para a criação dos delicados bouquets de flores, que se apresentam em cones de gelado?

Depois de uma série algo provocadora de gelados que lançámos no verão do ano passado (cujas bolas eram maminhas), quisemos explorar um outro lado das ligações amorosas. Assim surgiu "Love Eternal", um gelado em forma de bouquet cheio de flores, que presta homenagem ao triunfo do amor romântico sobre os afetos adiados da pandemia. Esta peça foi efectivamente bouquet de noiva de um casamento adiado 2 anos devido à Covid sob o mote “Omnia vincit amor; et nos cedamos amori” (o amor vence tudo; cedamos nós ao amor).

Como surgiu o vosso interesse pela escultura?

... E apesar de ambas termos seguido a vertente de Pintura nas Belas Artes! Foi a cerâmica, o barro, que despoletou em nós a necessidade de pensar e criar a três dimensões. É um material com possibilidades quase ilimitadas, a nível de textura, escala, cor, e todo o processo que exige é cativante, como aquelas epopeias que lemos nos livros e, tal como elas, dura para toda a eternidade.

Nas vossas peças é evidente o elevado grau de perícia, domínio da forma e dos materiais. O vosso trabalho em pesquisa académica foi fundamental para chegarem a este nível?

De facto, o nosso contacto com a cerâmica teve início na tecnologia de cerâmica da Faculdade de Belas Artes de Lisboa (FBAUL) no início da década de 2000. Após terminarmos a Licenciatura (curiosamente em Pintura), começámos a trabalhar nas oficinas de cerâmica ao abrigo de um programa de investigação na área da cerâmica artística (CIECA). Esta fase incubadora ana+betânia durou quase 10 anos, durante os quais tivemos a oportunidade de aprender e experimentar sem limites. O ensino - e prática - aqui são bastante completos e é estimulada a experimentação de diversos processos e técnicas de modelação, revestimento, pintura, cozedura.

Igualmente importante foi a aprendizagem para uma formulação consistente e metódica de um projecto artístico, associada a toda a cultura visual estudada. Aprender a integrar conceitos e ideias próprias a processos técnicos e materiais é talvez a grande mais-valia do ensino superior artístico. 

Como funciona o processo criativo de uma dupla?

Consideramos que a coluna dorsal do nosso processo criativo é a partilha, o que faz com que tenhamos de funcionar em constante procura da outra. A partilha traduz-se na comunicação eficaz de ideias, no tempo e dedicação ao projeto, em aceitar procurar um equilíbrio hierarquicamente superior ao ego individual.

Em termos práticos, como vivemos em cidades diferentes, estamos num constante ping-pong de partilha de ideias, imagens, histórias, inspirações; depois, organizamos o trabalho de estúdio de forma quase especializada para optimizar os processos técnicos que estão por detrás das nossas peças.

Quais são as vossas grandes referências?

Muito concretamente podemos apontar a influência do trabalho de Raphael Bordallo Pinheiro. Raphael é uma figura incontornável para nós e uma fonte de inspiração inesgotável, com muitas linhas de tangência ao nosso trabalho, quer pela estética pop/ kitsch com toda a sua portugalidade, quer pelo recurso ao humor, à provocação e à ironia.

Outros artistas nossos contemporâneos que acompanhamos há alguns anos e que são uma grande inspiração, são a Claire Partington, o Matt Wedel e a Carolein Smit. Por nos mostrarem o caminho, por saberem tão bem medir e usar nas quantidades correctas a criatividade, uma visão clara e uma técnica e força de trabalho incríveis.

Descubra AQUI as peças ANA+BETÂNIA disponíveis.